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quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Porque é que o Eusébio tem uma estátua no estádio do Benfica

"vestir a camisola do Benfica é uma honra para todos os jogadores. Alguns, e não são assim tantos, honram tanto a camisola como ela os hobra a eles. Outros, ainda mais raros, conseguem dar mais ao Benfica do que o Benfica lhes dá. A esses, o clube ergue-lhes uma estátua à porta do estádio. É por isso que só está lá uma." - Ricardo Araújo Pereira



domingo, 9 de outubro de 2016

Donald Trumpolineiro



Por Ricardo Araújo Pereira.

Antigamente, uma pessoa com as ideias e a personalidade de Donald Trump não se candidatava a presidente dos Estados Unidos: tentava matar o presidente dos Estados Unidos

Num país europeu, um candidato a presidente que se comportasse como Donald Trump perderia debates até contra uma cadeira vazia. Nos Estados Unidos, aguenta-se bastante bem contra uma candidata da qual se diz ser a mais bem preparada de sempre. No debate de segunda-feira, Hillary Clinton acusou Trump de não pagar impostos. Sabemos como, num país decente, ou até mesmo em Portugal, um candidato acusado de não cumprir os mais básicos deveres de cidadania reagiria: “Não lhe admito, sotôra. Isso é mentira. E é uma inverdade, também. Uma inverdade falsa, ainda por cima.

sábado, 17 de setembro de 2016

Ricardo Araújo Pereira, carta aberta a Sócrates


Compreendo quase todas as suas queixas. Ao que parece, o facto de um amigo lhe ter disponibilizado um apartamento de 225 metros quadrados em Paris fez com que o Ministério Público lhe disponibilizasse um apartamento de 9 metros quadrados em Évora.

Caro eng. José Sócrates,

Espero que esta o encontre bem. Li com atenção as suas cartas e foi apenas por falta de tempo que não respondi mais depressa. Lembro-me de, no fim do liceu, ter mantido alguma correspondência com antigos colegas mas, por uma razão ou por outra, a troca de cartas foi-se tornando cada vez mais rara, até que parou completamente. Não gostaria de cometer esse erro outra vez. Parece-me importante manter o contacto com as pessoas do nosso passado, como antigos colegas e antigos primeiros-ministros.

Tenho pensado bastante nas observações que vai fazendo. Esta última carta sensibilizou-me especialmente, na medida em que criticava a cobardia dos políticos, a cumplicidade dos jornalistas, o cinismo dos professores de Direito e o desprezo das pessoas decentes. Como creio que sabe, não pertenço a nenhuma das categorias citadas, e por isso fui deixado de fora do seu olhar crítico, pelo que lhe agradeço.

As críticas que faz ao funcionamento da justiça parecem-me muito pertinentes. Portugal precisava que um homem como o sr. estivesse, digamos, sete anos à frente do Governo, talvez quatro dos quais com maioria absoluta, para fazer uma reforma séria do sistema judicial. É uma pena não termos essa possibilidade. Na minha opinião, os primeiros-ministros deviam ser presos antes, e não depois dos mandatos. Estagiavam durante dois meses numa cadeia, três num hospital e um semestre numa escola. O contacto directo com a realidade dá-nos perspectivas novas, mais informadas, e acirra o ímpeto reformista.

Julgo que é possível estabelecer um paralelo entre o processo de Josef K., a personagem de Kafka, e o de José Sócrates, ou Josef S. - sendo que a sua história é mais complexa: tanto Josef K. como Josef S. se vêem confrontados com decisões judiciais autoritárias e, em certos aspectos, até grotescas, mas Josef K. nunca teve amigos como Alberto Martins e Alberto Costa a tutelar a justiça, nem governou o seu país. Era apenas vítima. Ser simultaneamente vítima e carrasco deve ser mais perturbador. Ao contrário do que muitas vezes se diz, Joseph-Ignace Guillotin, o inventor da guilhotina, não foi guilhotinado. Essa ironia foi reservada para si, que é agora acusado por um sistema que ajudou a conceber e conservar.

Compreendo quase todas as suas queixas. Na verdade, a ironia que identifiquei acima não é a única do seu caso. Ao que parece, o facto de um amigo lhe ter disponibilizado um apartamento de 225 metros quadrados em Paris fez com que o Ministério Público lhe disponibilizasse um apartamento de 9 metros quadrados em Évora. Obrigam-no a aceitar aquilo que o acusam de ter aceitado. É duro. E irónico. Uma pessoa tolera tudo, menos figuras de estilo.

Considero, no entanto, que algumas das suas análises são menos acertadas. Por exemplo, quando diz, sobre a intenção da prisão preventiva: "(...) já não és um cidadão face às instituições; és um 'recluso' que enfrenta as 'autoridades': a tua palavra já não vale o mesmo que a nossa." Aqui para nós, se lhe roubaram o valor da palavra não terão levado grande tesouro, uma vez que a sua palavra já não valia o mesmo que a nossa desde aquela promessa dos 150 mil empregos.

Espero que não leve a mal esta franqueza. Estou certo de que voltaremos a falar.

Cumprimentos,

Ricardo
fonte: VISÃO