segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Jorge Jesus não está à altura do Benfica

Digo-o com todas as letras: Jorge Jesus não está à altura do Benfica

 

DESCALÇO NA CATEDRAL - A crónica de Jacinto Lucas Pires, ao domingo em O JOGO

O jogo com o Marítimo foi mauzote, fraquito, tristonho. Imagino-nos no Caldeirão dos Barreiros, a ver aquilo; no final, olharíamos uns para os outros suspirando qualquer coisa como: "Pelo menos, ganhámos..."

E é tão triste essa sensação de "pelo menos", não concordam? O golo de Everton foi bom, claro, mas, em geral, falta alegria ao nosso futebol. Bem sei que "alegria" não é o mais consensual dos termos técnico-táticos, mas talvez, na sua base, os problemas das chuteiras benfiquistas não sejam técnico-táticos.

Há aquele anúncio da mostarda, sabem? Pois a alegria tem o mesmo efeito. Com alegria, tudo melhora: a velocidade, a disponibilidade, a concentração. Aliás, a fífia de Otamendi, que deu golo ao Marítimo, foi um sintoma dessa, digamos, desalegria.

Quinta-feira, com o Lech Poznan, começámos mais ou menos no mesmo registo, mas depois animámos com os golos. Jogámos melhorzito, sim. Mas a goleada não nos deve pôr a fazer castelos no ar. A solução imediata para os nossos futebóis passa por recuperar a alegria, juntando-lhe umas pitadas de humildade. Quem sabe o tiraço de Weigl - o trinco inadaptado, acabado de recuperar da covid-19 - possa inspirar o plantel nesse sentido.

Esta tem sido uma época mais do que estranha, uma época mesmo esquisita - e, por uma vez, não estou a falar da pandemia. Não: refiro-me ao meu Benfica, ao Glorioso, ao clube de Eusébio, Coluna, Simões, Chalana, Aimar.

Uma época esquisitíssima na Catedral. Não há público nos estádios, mas quem não o sente - este desconforto? Não é preciso ser especialista em opiniões reprimidas ou silêncios ensurdecedores para perceber que há um desconforto a crescer entre os benfiquistas. Um sentimento difuso mas irrecusável, intangível mas notório.

Estará ligado ao facto de termos um técnico que, no momento de um golo do Benfica, em vez de festejar, escolhe insultar um colega de profissão? Que trata mal uma jornalista, quando esta lhe faz uma pergunta perfeitamente legítima? Que culpa jogadores da formação por maus resultados e ignora erros dos atletas comprados por sua indicação? Que, nos momentos difíceis, se escapa a assumir a responsabilidade? (Sim, que assumir a responsabilidade não é desbobinar a frase feita; tem de ser uma atitude autêntica, um gesto permanente.)

Um técnico, que parece ter uma única solução para os falhanços: exigir mais jogadores? (Já agora: quantos centrais serão precisos para resolver os buracos das nossas transições defensivas?) Julgo que o desconforto do nosso coração benfiquista tem a ver com isso tudo. E que chegámos ao ponto em que é preciso pô-lo por palavras. Pois não me furto à tarefa e digo-o aqui com todas as letras: Jorge Jesus não está à altura do Benfica.


Jacinto Lucas Pires